sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Secular (14/01/2022)

Através da janela na qual habito, percebo o mundo como um palco vasto e complexo, onde cada cena se desenrola com sua própria trama e desfecho. Nessa encenação da vida, somos atores e espectadores ao mesmo tempo, testemunhando o desenrolar de eventos que nos impactam de maneiras diversas, como pontuaram pensadores como Sócrates, Nietzsche e Freud.

Sócrates, o filósofo grego, nos ensinou sobre a importância do autoconhecimento e da reflexão. Ele nos convidaria a olhar para dentro de nós mesmos através dessa janela, a fim de compreender nossas emoções e ações. A dor que sentimos, tão bem descrita como reservada num canto do coração, é parte intrínseca da condição humana. Para Sócrates, o conhecimento de si mesmo era o caminho para a verdadeira felicidade e realização.

Já Friedrich Nietzsche, com sua visão perspicaz e muitas vezes sombria da existência, nos fala sobre a dor e o sofrimento como elementos inevitáveis da vida. Para ele, o vazio e a angústia são parte do processo de transformação e superação. Nietzsche nos convidaria a abraçar o caos e encontrar significado na própria dor, reconhecendo-a como uma força motriz para o desenvolvimento pessoal.

E Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nos lembra que as emoções mais profundas muitas vezes estão além da superfície, escondidas no inconsciente. Através da janela da mente, podemos vislumbrar as complexidades do psiquismo humano, onde conflitos e traumas podem residir. Freud nos convidaria a explorar essas profundezas, trazendo à luz o que está oculto, para encontrar cura e redenção.

Assim, enquanto observamos o mundo através dessa janela, somos confrontados com nossas próprias fragilidades e contradições. A chuva que escorre pelas vidraças ecoa nossas lágrimas, e o vazio que nos envolve é um lembrete da efemeridade da vida. Contudo, também encontramos na escuridão da existência momentos de beleza e transcendência.

Talvez o desaparecer desejado, evocado pela metáfora dos ninjas nos contos orientais, represente não apenas uma fuga, mas uma busca por uma nova perspectiva. Ser invisível aos olhos dos outros poderia nos proporcionar a liberdade de sermos verdadeiramente nós mesmos, sem as expectativas e julgamentos alheios.

No entanto, como observadores desse drama humano, reconhecemos que a dor e o amor estão entrelaçados de maneira intrínseca. Amar e não ser correspondido, sentir-se perdido em meio à solidão, são experiências compartilhadas por muitos. A busca por sentido e pertencimento é uma jornada individual, marcada por altos e baixos, mas também por momentos de profunda conexão e compaixão.

Assim, diante das incertezas e desafios da vida, nos resta a coragem de continuar, de enfrentar o desconhecido com a sabedoria adquirida através das experiências vividas. A cada ano que passa, acumulamos cicatrizes e aprendizados, moldando-nos na jornada rumo à nossa própria realização. E, no fim das contas, talvez o que nos resta seja justamente a esperança de que, apesar de tudo, ainda há beleza e significado a serem encontrados nesse labirinto chamado existência.


Por Màuri Zeurgo


Alcance

No abismo tumultuoso dos sentimentos, ele mergulha diariamente, seu coração se debate entre as ondas revoltas de uma paixão impossível. A me...