É neste solo seco e rude que encontro o caminho de minhas
emoções. As sensações mais intensas e rumorosas transbordam nesse oceano
intrínseco e ressequido de dúvidas que não são minhas. Na inquietude humana e
tão mental que assola meus pensamentos há muito deturpados, vive nos arredores
como um vácuo cerebral, aquele que comanda, o mesmo que ordenha as ovelhas e
também se propulsiona ao abismo.
Na queda de suas próprias escolhas, a encolha abissal vem
sempre deteriorando os ossos restantes por toda a vala ensanguentada, essa
enchente seca traz aos olhos um mundo em chamas que habita em cada canto
esquecido do coração. Onde foi que ficaram os valores do ser humano e os bons
modos dos nossos antepassados e a quietude saudade pelo medo de um olhar acima
e a palma quente com ferro?
Eis me aqui novamente na amplitude e na exatidão desse
ínterim vazio chamado tempo, para completar meu espaço que é tão meu e somente
minha mente compreende, ou não. Como prova de meus pesares e indícios de meus
caminhos, meus pés falam por si e sabem compreender na íntegra a dor e o amor
de enxergar o quão tóxicas são aquelas pessoas que te usam, te sugam e te
desmembram a qualquer movimento incrédulo a eles.
Viver a luxúria do material e esquecer-se do espiritual e
dos laços que te formaram humano, te empurra na poça de lama que o engole e o
transfere inquietante e infinitamente ao desconhecido — a morte. A morte da
mente, a carne, o júbilo sacro chamado espírito e toda a missa conhecida como
vida são nada mais, nada menos que a resposta preparada aos que vieram sem se
programar e aos que não voltarão sem um preço a se pagar.
E é nessa reflexão exaustiva que me atento aos traidores e
me afasto da vida, aguardando a melhoria provinda de meus próprios esforços.
Mesmo que a fonte indefinida de tentativas seque, sabemos que nosso caminho e
nossas dores são resultados da falta de algo que não cabe a nos, nem a toda
sabedoria, não cabe nem mesmo ao próprio ser humano comum, mas sim aos
devaneios desse coração seco e árido.
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Por Màuri Zeurgo |