domingo, 2 de abril de 2023

Árido (02\04\2023)

É neste solo seco e rude que encontro o caminho de minhas emoções. As sensações mais intensas e rumorosas transbordam nesse oceano intrínseco e ressequido de dúvidas que não são minhas. Na inquietude humana e tão mental que assola meus pensamentos há muito deturpados, vive nos arredores como um vácuo cerebral, aquele que comanda, o mesmo que ordenha as ovelhas e também se propulsiona ao abismo.

Na queda de suas próprias escolhas, a encolha abissal vem sempre deteriorando os ossos restantes por toda a vala ensanguentada, essa enchente seca traz aos olhos um mundo em chamas que habita em cada canto esquecido do coração. Onde foi que ficaram os valores do ser humano e os bons modos dos nossos antepassados e a quietude saudade pelo medo de um olhar acima e a palma quente com ferro?

Eis me aqui novamente na amplitude e na exatidão desse ínterim vazio chamado tempo, para completar meu espaço que é tão meu e somente minha mente compreende, ou não. Como prova de meus pesares e indícios de meus caminhos, meus pés falam por si e sabem compreender na íntegra a dor e o amor de enxergar o quão tóxicas são aquelas pessoas que te usam, te sugam e te desmembram a qualquer movimento incrédulo a eles.

Viver a luxúria do material e esquecer-se do espiritual e dos laços que te formaram humano, te empurra na poça de lama que o engole e o transfere inquietante e infinitamente ao desconhecido — a morte. A morte da mente, a carne, o júbilo sacro chamado espírito e toda a missa conhecida como vida são nada mais, nada menos que a resposta preparada aos que vieram sem se programar e aos que não voltarão sem um preço a se pagar.

E é nessa reflexão exaustiva que me atento aos traidores e me afasto da vida, aguardando a melhoria provinda de meus próprios esforços. Mesmo que a fonte indefinida de tentativas seque, sabemos que nosso caminho e nossas dores são resultados da falta de algo que não cabe a nos, nem a toda sabedoria, não cabe nem mesmo ao próprio ser humano comum, mas sim aos devaneios desse coração seco e árido.

Por Màuri Zeurgo


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