terça-feira, 4 de abril de 2023

Fuga das Memórias

Fogem as minhas memórias do outono frio e com perfume seco. Como sol de inverno em céu nublado, elas se desfiguram por entre as nuvens, descansando em toda a sua plenitude — descansam elas, nas lembranças. Dentre mares e oceanos, vi muitos amores perdidos, atravessando rios e terras, em busca de acalento, acariciando a doce solidão e escapando aos meus olhos nos confins da última parada chamada dor. Tudo foram sonhos, que alcançaram do topo das montanhas ao ventre dos rios. Percorreram assim, caminhos infindáveis na profundidade da imaginação absurda do homem. Restam agora os grandes moinhos de pensamento e lástima a girarem, espalhando os últimos suspiros nessa incrível aventura do amor. Ele, que de tanto almejar, supriu-se de estrelas e planetas numa simples canção de ninar, como numa respiração boca-a-boca entre o corpo e a alma. Aos amores eternos e também ocultos que vivi, guardados estão na minha memória — em especial um — aquele que me trouxe todo o sabor do passado, o segredo do universo e a velha alma do poeta com apenas um beijo. Selando assim, as verdades jamais faladas e que foram cumpridas ao longo dos tempos. A solidão não é o acúmulo de crenças e interesses, mas sim, o fato de se sentir emanado de um vazio, que o impede de se auto preencher com as coisas do mundo, mesmo à (dois). Isso transforma as nossas ilusões viáveis até o ponto de dizer-te amo. Essa sensação engana e nos dá a própria cara à tapa, fazendo-nos escravos daquele ditado platônico, que acaba sempre num quarto, sala ou varanda vazia, na companhia de uma taça de vinho, refrescos, chocolate e muita imaginação. Voltam a dormir as minhas memórias de outono e que o acalento dessa noite aqueça as suas mais íntimas lembranças, afim de se conectar com o velho e com o novo, mas sempre na direção certa. "Màuri Zeurgo"

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