domingo, 26 de outubro de 2014

Maestria - Ato 1 (Dia 26.10.2014 )

A vida é como um jogo de xadrez, cada jogada errada e cada ato insensato nos leva a derrota.
Acreditei sempre ter um alguém olhando por mim, assistindo e percebendo os meus erros e enganos, sucessos e frustrações. Ato falho meu, pois assim como um segredo infame, coloquei-me novamente diante as garras dos leões, prestes a ser revelado pelas más línguas e devorado pelos dentes insanos dessa trupe circense num espetáculo triste e sangrento.
É como descer ao Tibre e voltar numa redoma de fogo e envolto de uma angustia incessante, o gosto insosso e o amargo fel que desce pelas vias que nutrem nosso corpo, misturam-se com as tantas decepções da vida nossa.
Por tanto sofrer de amor e na decorrência das dores humanas, hoje sei que uma das coisas mais derradeiras da vivência enquanto homem é ser humano demais.
Volto aos meus primeiros versos da vida e trago comigo as lembranças inquietantes a qual as chamo de memórias - As mesmas que se uniram ao longo do tempo e chegam aos dias últimos como golpes de um mangual atroz que de tanto peso, tira-nos a massa do corpo, esmagando até mesmo a sensibilidade notória que existia em nós antes mesmo de nascermos.
Enquanto as pontas dos dedos tiverem vida para sentirem o calor das palavras e enquanto os pincéis mais rústicos tiverem tingido a grande tela cefálica e o grafite colorido pintar de anil os ladrilhos sem cor que é a vida, teremos assim motivos para continuar recortando com perfeição nossa longa caminhada pelos anais de nosso ciclo.
Acreditando sempre que a vida seja forme e disforme, nítida e opaca, real e irreal, poderemos sentir que a queda nesse grande poço sem fim nos faz mergulhar e voltar num impulso tão denso que a tensão causal não suporta a pressão e insiste em dilatar pelas vias de fato.
Uma sensação de perdição toma conta da gente como se fosse um ato último e intrínseco de uma peça atuada pelo corpo nosso, a dor que dela emana precocemente ativa a sensação derradeira de querer e poder, motivando-nos a deixar de lado a vontade de viver e querer sentir apenas o soro alvo da vida, aquele mesmo soro que nos alimenta e que nos faz fantasiar de uma forma tão pura e bela que acarreta-nos milhões de espaços vagos dentro de nossa mente.
 A loucura em si é um ponto comum a todos nós e a troca de dimensões nos empurra a um universo diferente e novo. Seja da insensatez e da normalidade, seja da ação e ou da reação.
Nas minúcias da existência sórdida, encontramos a inocência infante e é dela que devemos aproveitar todo o conhecimento possível, preparando-se para o mínimo, sendo a morte a parte comum de todo um contexto. E não é mesma a coluna vertebral que sustenta o ser.
A violência sub-humana que corrói os homens em momentos insanos explica que a escuridão existe dentro de todos. Basta apenas saber o momento certo para que a mesma se revele no mais dócil dos corações. Uma questão de tato, visão, pureza e humanidade, lógica e compreensão. Pelo mesmo fato, sei hoje que o coração dos homens é a terra onde ninguém quer caminhar de verdade, um lugar sombrio e com a nítida visão de desprezo pelos verdadeiros sentimentos que predominam diante um trono envolto de suposições poligâmicas e diretamente fetais, onde o carnal não tem vez.
Num risco extremo, seres comuns recorrem à autoajuda, ao abraço paterno, ao colo materno, ao ombro amigo e até mesmo ao seio lascivo que leva homens e mulheres a loucura tropical, sugando de ambos a energia vital dos baixos territórios, drenando o suor somente com o poder da pele e do toque quente das mãos. Os pensamentos vão longe nesse momento, lembrando-se do primeiro beijo, dos primeiros lençóis e toalhas compartilhados com amor e também não. Ah, a vida repleta de surpresas nos dá e rouba com a mesma habilidade de um jogo de xadrez em uma tarde com folhas de outono.
Quanto ao fim de tudo – O que é o começo, o que é o meio e o que é o desenvolver dessas tantas histórias amorosas que começam, desenvolvem e nunca terminam?
Para todos nós, os eternos apaixonados sem jeito, por que nunca conseguimos finalizar uma paixão para poder começar um romance amoroso e finalizar com um beijo último de amor e entrega sem que exista um adeus?
E no fim de tudo, somos todos loucos, insanos, apaixonados e rancorosos querendo sobreviver feito jogadores que agem com eterno blefe, somente pelo prazer de um dia poder dizer que sorriu, chorou, silenciou, gritou, odiou e amou. Completando assim um ciclo ético visceral e sem sentido, na qual a natureza das coisas não mais importa e o fluxo da vida seja repleto de doutrinas, etnias, ironias, contradições e revelações.
Pertencemos a uma realidade mundana, tudo procede conforme a rotina se desenvolve.
Sentir a garoa fina de uma tarde de domingo pode acalmar o corpo e relaxar a mente, mas ao mesmo tempo pode trazer a notícia ruim de longe, nos angustiando e nos manipulando a fazer coisas fora do nosso próprio consentimento. Exercer a função de um relógio exige muito mais que simplesmente mostrar as horas, precisa também ter as melhores peças para que seu funcionamento caiba ao tempo e espaço corretos. Somos feito ponteiros de um velho achaque descomunal e irônico.
Das proezas humanitárias ao instinto animalesco existente no decorrer dessa estrada fúnebre, ouvimos muito a respeito do preço a se pagar pelos erros cometidos no passado, mas nada se compara a dor de um ente e nem a infelicidade de uma partida precoce. No ataque de uma doença habitual o estado febril é menos doloroso. É como um mal estar sem gravidade, uma proliferação rápida e indolor, mas ao mesmo tempo passageira.
Através dos julgamentos repentinos, adoecer por uma moléstia é corriqueiramente insano, lembrando que ao causar um grande e eterno aborrecimento na filia genealógica existirá o preço da Matemática do diabo a ser pago. Deus é justo e complexo demais para que o entendamos de forma a ressuscitar alguém. Estamos longe da perfeição e também merecemos pouco ou nada da deidade atmosférica que nos cobre e que rege a enorme gama de crentes e descrentes dentro dessa perversidade que é a existência.
Vida, morte, dor, riso, calor, frio... Sentir a queda babilônica de perto, soa muito menos letal que presenciar e viver a dor de outrem.
Deus pai, todo poderoso, criador do céu e da Terra, tende piedade de todos nós, alvos da legião angustiante que bate as asas quando a morte vem e dos filhos e filhas que personificam a verdadeira e real caixa de Pandora – O verdadeiro presente grego à humanidade.
Agora devo mergulhar na minha insanidade pessoal e marinhar até as águas mais obstantes desse eterno oceano de sonhos irreais e pesadelos decorrentes, apenas para poder dar a mim um minuto de paz e sossego. Esperando sempre o retorno daquilo que tenho feito sob a brisa da manhã, no sereno da noite e durante os raios de sol das Hespérides.
Hoje deixo meu adeus solene e sincero aos que se foram e um bem vindo aos que chegarem e peço aos que nos olham lá de cima que proteja e cure nossas dores e enfermidades em nome da força mais poderosa que existe entre nós – Deus.
Diante esse idoso e trincado espelho e dessas páginas metálicas, duradouras e submissas da eternidade rogo também à própria capacidade do ser humano em ater-se ao que nos é dado como forma de cura e de ponderação para que possamos um dia pelo menos, existir como um reflexo de bravura, heroísmo e compaixão para com a causa inanimada de tantas peças de um jogo de xadrez que termina nunca.
Nesse tabuleiro deliberar-se-á ao desejo súbito, obsoleto pela provação de tempos rasteiros e ingratos, permeando à sensibilidade e aos assuntos mais pecaminosos que nutrem um tabu oculto desde os primórdios das civilizações.
O momento da vitória é esperado, seja ele etéreo e ou com vivacidade o suficiente para clamar à vida com uma coroa de louro e uma taça de vinho, olhando ao redor e gritando ao inimigo com maestria – Xeque Mate, eu escolho viver..!


Por Mauri Zeurgo

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