A
vida é como um jogo de xadrez, cada jogada errada e cada ato insensato nos leva
a derrota.
Acreditei
sempre ter um alguém olhando por mim, assistindo e percebendo os meus erros e
enganos, sucessos e frustrações. Ato falho meu, pois assim como um segredo
infame, coloquei-me novamente diante as garras dos leões, prestes a ser
revelado pelas más línguas e devorado pelos dentes insanos dessa trupe circense
num espetáculo triste e sangrento.
É
como descer ao Tibre e voltar numa redoma de fogo e envolto de uma angustia
incessante, o gosto insosso e o amargo fel que desce pelas vias que nutrem nosso
corpo, misturam-se com as tantas decepções da vida nossa.
Por
tanto sofrer de amor e na decorrência das dores humanas, hoje sei que uma das
coisas mais derradeiras da vivência enquanto homem é ser humano demais.
Volto
aos meus primeiros versos da vida e trago comigo as lembranças inquietantes a
qual as chamo de memórias - As mesmas que se uniram ao longo do tempo e chegam
aos dias últimos como golpes de um mangual atroz que de tanto peso, tira-nos a
massa do corpo, esmagando até mesmo a sensibilidade notória que existia em nós
antes mesmo de nascermos.
Enquanto
as pontas dos dedos tiverem vida para sentirem o calor das palavras e enquanto
os pincéis mais rústicos tiverem tingido a grande tela cefálica e o grafite
colorido pintar de anil os ladrilhos sem cor que é a vida, teremos assim
motivos para continuar recortando com perfeição nossa longa caminhada pelos
anais de nosso ciclo.
Acreditando
sempre que a vida seja forme e disforme, nítida e opaca, real e irreal,
poderemos sentir que a queda nesse grande poço sem fim nos faz mergulhar e
voltar num impulso tão denso que a tensão causal não suporta a pressão e insiste
em dilatar pelas vias de fato.
Uma
sensação de perdição toma conta da gente como se fosse um ato último e intrínseco
de uma peça atuada pelo corpo nosso, a dor que dela emana precocemente ativa a sensação
derradeira de querer e poder, motivando-nos a deixar de lado a vontade de viver
e querer sentir apenas o soro alvo da vida, aquele mesmo soro que nos alimenta
e que nos faz fantasiar de uma forma tão pura e bela que acarreta-nos milhões
de espaços vagos dentro de nossa mente.
A loucura em si é um ponto comum a todos nós e
a troca de dimensões nos empurra a um universo diferente e novo. Seja da insensatez
e da normalidade, seja da ação e ou da reação.
Nas
minúcias da existência sórdida, encontramos a inocência infante e é dela que
devemos aproveitar todo o conhecimento possível, preparando-se para o mínimo,
sendo a morte a parte comum de todo um contexto. E não é mesma a coluna
vertebral que sustenta o ser.
A
violência sub-humana que corrói os homens em momentos insanos explica que a escuridão
existe dentro de todos. Basta apenas saber o momento certo para que a mesma se
revele no mais dócil dos corações. Uma questão de tato, visão, pureza e
humanidade, lógica e compreensão. Pelo mesmo fato, sei hoje que o coração dos
homens é a terra onde ninguém quer caminhar de verdade, um lugar sombrio e com
a nítida visão de desprezo pelos verdadeiros sentimentos que predominam diante
um trono envolto de suposições poligâmicas e diretamente fetais, onde o carnal
não tem vez.
Num
risco extremo, seres comuns recorrem à autoajuda, ao abraço paterno, ao colo
materno, ao ombro amigo e até mesmo ao seio lascivo que leva homens e mulheres
a loucura tropical, sugando de ambos a energia vital dos baixos territórios,
drenando o suor somente com o poder da pele e do toque quente das mãos. Os
pensamentos vão longe nesse momento, lembrando-se do primeiro beijo, dos
primeiros lençóis e toalhas compartilhados com amor e também não. Ah, a vida
repleta de surpresas nos dá e rouba com a mesma habilidade de um jogo de xadrez
em uma tarde com folhas de outono.
Quanto
ao fim de tudo – O que é o começo, o que é o meio e o que é o desenvolver
dessas tantas histórias amorosas que começam, desenvolvem e nunca terminam?
Para
todos nós, os eternos apaixonados sem jeito, por que nunca conseguimos
finalizar uma paixão para poder começar um romance amoroso e finalizar com um
beijo último de amor e entrega sem que exista um adeus?
E
no fim de tudo, somos todos loucos, insanos, apaixonados e rancorosos querendo
sobreviver feito jogadores que agem com eterno blefe, somente pelo prazer de um
dia poder dizer que sorriu, chorou, silenciou, gritou, odiou e amou.
Completando assim um ciclo ético visceral e sem sentido, na qual a natureza das
coisas não mais importa e o fluxo da vida seja repleto de doutrinas, etnias, ironias,
contradições e revelações.
Pertencemos
a uma realidade mundana, tudo procede conforme a rotina se desenvolve.
Sentir
a garoa fina de uma tarde de domingo pode acalmar o corpo e relaxar a mente,
mas ao mesmo tempo pode trazer a notícia ruim de longe, nos angustiando e nos
manipulando a fazer coisas fora do nosso próprio consentimento. Exercer a
função de um relógio exige muito mais que simplesmente mostrar as horas,
precisa também ter as melhores peças para que seu funcionamento caiba ao tempo
e espaço corretos. Somos feito ponteiros de um velho achaque descomunal e
irônico.
Das
proezas humanitárias ao instinto animalesco existente no decorrer dessa estrada
fúnebre, ouvimos muito a respeito do preço a se pagar pelos erros cometidos no
passado, mas nada se compara a dor de um ente e nem a infelicidade de uma
partida precoce. No ataque de uma doença habitual o estado febril é menos
doloroso. É como um mal estar sem gravidade, uma proliferação rápida e indolor,
mas ao mesmo tempo passageira.
Através
dos julgamentos repentinos, adoecer por uma moléstia é corriqueiramente insano,
lembrando que ao causar um grande e eterno aborrecimento na filia genealógica
existirá o preço da Matemática do diabo a ser pago. Deus é justo e complexo
demais para que o entendamos de forma a ressuscitar alguém. Estamos longe da
perfeição e também merecemos pouco ou nada da deidade atmosférica que nos cobre
e que rege a enorme gama de crentes e descrentes dentro dessa perversidade que
é a existência.
Vida,
morte, dor, riso, calor, frio... Sentir a queda babilônica de perto, soa muito
menos letal que presenciar e viver a dor de outrem.
Deus
pai, todo poderoso, criador do céu e da Terra, tende piedade de todos nós,
alvos da legião angustiante que bate as asas quando a morte vem e dos filhos e
filhas que personificam a verdadeira e real caixa de Pandora – O verdadeiro
presente grego à humanidade.
Agora
devo mergulhar na minha insanidade pessoal e marinhar até as águas mais obstantes
desse eterno oceano de sonhos irreais e pesadelos decorrentes, apenas para
poder dar a mim um minuto de paz e sossego. Esperando sempre o retorno daquilo
que tenho feito sob a brisa da manhã, no sereno da noite e durante os raios de sol
das Hespérides.
Hoje
deixo meu adeus solene e sincero aos que se foram e um bem vindo aos que
chegarem e peço aos que nos olham lá de cima que proteja e cure nossas dores e
enfermidades em nome da força mais poderosa que existe entre nós – Deus.
Diante
esse idoso e trincado espelho e dessas páginas metálicas, duradouras e
submissas da eternidade rogo também à própria capacidade do ser humano em ater-se
ao que nos é dado como forma de cura e de ponderação para que possamos um dia
pelo menos, existir como um reflexo de bravura, heroísmo e compaixão para com a
causa inanimada de tantas peças de um jogo de xadrez que termina nunca.
Nesse
tabuleiro deliberar-se-á ao desejo súbito, obsoleto pela provação de tempos
rasteiros e ingratos, permeando à sensibilidade e aos assuntos mais pecaminosos
que nutrem um tabu oculto desde os primórdios das civilizações.
O
momento da vitória é esperado, seja ele etéreo e ou com vivacidade o suficiente
para clamar à vida com uma coroa de louro e uma taça de vinho, olhando ao redor
e gritando ao inimigo com maestria – Xeque Mate, eu escolho viver..!
Por
Mauri Zeurgo
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