terça-feira, 26 de março de 2024

Meus Pés (Reedição)

Quando meus pés contarem, todos saberão dos caminhos que trilhei, das aventuras vividas e dos mundos que explorei. No entanto, desde já, saibam que somente eles conhecem a sensibilidade viva que experimentei. Cada passo na grama, cada impacto nas calçadas quentes das metrópoles, cada pegada na areia carrega consigo memórias, boas e más.

Com a orientação dos meus pés, fui astro-rei, astronauta, sonhador, pequeno príncipe, poeta das línguas antigas, mendigo e até mesmo senhor do universo.

Ah, meus pés... Tão queridos que conheço cada detalhe e marca entre meus dedos, lembrando pequenas bolinhas de gude cortadas ao meio. Recordo-me de cada lugar por onde passei, de cada experiência vivida. Gosto deles limpos, sujos, secos, molhados - gosto simplesmente deles.

Quando meu passo é leve e silencioso, sinto-me como um pássaro em voo. Quando é firme e pesado, sou uma rocha imponente sobre a terra.

Ah, se eles pudessem falar... Revelariam tanto, a ponto de meu mistério deixar de existir. Mas o verdadeiro enigma reside neles mesmos, que suportam meu peso e registram cada verso no grande livro da imaginação que criei.

Eles são meus guerreiros incansáveis, subindo, descendo, indo, voltando. Já não concebo a vida sem eles. Minha mente gira em torno deles, inspirando ideias absurdas pelo simples amor que lhes dedico.

Meus pés, sempre presentes, são guardiões da minha introspecção, sempre em todo lugar. Se falassem, o mundo seria mais alegre, as crianças chorariam menos, e a vida se estenderia por uma eternidade. Mas, pés não falam, e a alusão caótica que faço a mim mesmo é apenas um sonho nunca realizado.

Por Màuri Zeurgo




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